Viseu fala em surdina de morte de prostituta Clientes que poderão ter sido infectados com o HIV fazem testes fora da cidade.
A notícia da morte, em Viseu, de uma prostituta infectada com sida que poderá ter contaminado centenas de clientes só aparentemente passa despercebida na cidade - que a comenta, mas sempre de modo muito discreto. "Há gente assustada", mas ninguém diz onde. Só as prostitutas testemunham esse ambiente, ao confessarem ser grande a redução de clientes "são muito menos, muito menos", afirma Raquel, uma brasileira de 29 anos que se dedica, "sozinha" no seu "apartamento", àquela actividade.
Na rua, o assunto é pouco comentado, mas há quem assegure conhecer muita gente que "anda cheia de medo", pois faz parte do "grande número" de homens (não só da cidade mas também de outras localidades, mesmo distantes) que mantiveram relações sexuais com a mulher falecida - ela era muito procurada, não tanto pela sua beleza, "que a tinha", mas sobretudo por aceitar "ir para a cama sem preservativo".
O receio de eventuais infecções parece, no entanto, não se reflectir nos serviços de saúde de Viseu, designadamente na unidade de Aconselhamento e Detecção Precoce do HIV, onde o movimento não terá sofrido alterações significativas. Isso não quer dizer que não haja "muitos homens assustados" e mesmo "preocupados em saber se contraíram a doença", mas estarão a fazer os testes fora da cidade, deslocando-se designadamente a Lisboa e ao Porto.
Em Viseu, como noutros lados, os serviços garantem "confidencialidade absoluta" e estão preparados para responder às necessidades, sublinhava ontem à Rádio No Ar Raquel Almeida, responsável por aqueles serviços. Apesar disso, "eles preferem fazer os testes lá fora".
Apesar de ter nacionalidade brasileira, a mulher, de 32 anos, que há duas semanas faleceu e estaria infectada pelo vírus da sida - o delegado distrital de saúde já admitiu a existência do caso - era conhecida, entre a população masculina que a contactava, por "bela italiana".
O facto de aceitar praticar relações sexuais sem qualquer protecção faria mesmo com que fosse das prostitutas mais procuradas e "das que mais facturava" em Viseu, como admite uma sua colega, contactada pelo DN - pois, explica, "são muitos os homens que querem ir sem camisinha". Aliás, muitos clientes, "principalmente os casados", estão dispostos a "pagar muito mais" para fazerem sexo sem protecção.
quebra na procura. A quebra na procura de prostitutas terá sido provocada pela morte da brasileira, corrobora uma sua conterrânea - reticente, porém, em acreditar que a colega falecida arriscasse tanto, pois "as brasileiras são normalmente inflexíveis no uso do preservativo". No seu país "há muita divulgação", e "as meninas sabem que não há dinheiro que pague a doença".
Uma portuguesa que "trabalha para homens, em conjunto com uma colega" também nota, desde que se soube da morte da "bela italiana", uma menor procura dos seus serviços, mas acredita que a situação "voltará ao normal". Espera, no entanto, que "o susto por que estão agora a passar muitos homens - e as suas mulheres" possa servir para acabar de vez com as relações sexuais sem protecção.
Tânia Santos*
1 comentário:
Pareçe que os homens de viseu estão um tanto ao quanto apavorados. A pobre da mulher teve que morrer para obrigar os senhores a pensarem nos cuidados que devem ter.
Excelente artigo!
Parabens
Andreia Martins
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